Eu nem vou tentar me justificar. Mais um mês chegou ao fim e eu não consegui produzir os posts do ‘ano do sem‘ como gostaria. E ao mesmo tempo em que isso me deixa um tanto quanto frustrada, eu também tenho tentado encarar a situação como uma oportunidade de ser mais paciente comigo mesma.
Porque se tem uma coisa que eu sei fazer bem, essa coisa é me cobrar. Meu monstrinho da autocobrança é muito eficiente: basta uma coisa não sair como o planejado para ele começar a trabalhar enlouquecidamente. Vocês não imaginam a batalha que é convencê-lo a parar.
E eu acho que só de contar isso já dá pra calcular o esforço mental que eu preciso fazer pra segurar esse monstrinho e encarar as coisas com mais leveza. É difícil, gente. Mesmo assim, eu tenho tentado – afinal, o Parece Óbvio tem de ser uma coisa boa na minha vida, e não mais uma fonte de frustração e ansiedade, né?
Reflexões à parte, vamos logo ao que interessa: o que aprendi ficando (mais) um mês sem looks repetidos? Como quem nos acompanha há mais tempo já sabe, o desafio de junho foi uma repetição daquele que eu havia proposto em maio – e que, por diversos motivos, não deu muito certo na primeira tentativa.
A minha ideia ao escolher ficar um mês sem repetir looks era retomar o controle sobre o meu armário e deixar claro, de uma vez por todas, que eu tenho mais do que o suficiente para me vestir bem – e que não, eu não preciso de mais.
Minha única regra era não repetir looks, isto é, combinações de roupas. Vestir a mesma peça mais de uma vez, compondo com outras de maneira diferente, estava liberado. Pra me ajudar a manter o controle – e também para dividir aqui com vocês -, adquiri o hábito de me fotografar todos os dias antes de sair de casa para o trabalho.
O resultado deste junho sem looks repetidos – e as reflexões que ele me proporcionou – vocês leem a partir de agora.
(Spoiler alert: a única coisa que se repete todos os dias é a cara de sono! kkk)
Comecei o desafio fazendo o esforço de usar peças que nunca eram primeira opção na hora de me vestir – no caso, o colete preto de pelos, o trench coat bege e as duas camisas, uma preta e uma azul.
A ideia foi boa por dois motivos: primeiro, pois serviu para eu me lembrar de como tinha opções bacanas que geralmente eram esquecidas; e segundo, para me convencer de que algumas coisas não eram lembradas porque eu simplesmente não gostava delas.
Foi assim com a camisa da estampa azul que eu vesti no quarto dia. Eu vivia ponderando se devia ou não tirá-la do meu armário, mas sempre ficava na dúvida e acabava deixando ela por lá – e quando eu digo por lá, era por lá mesmo, dentro de casa, já que sair com ela na rua nunca rolava.
E bastou vestir a bendita para acabar com as dúvidas e ter certeza de que era a hora da nossa despedida. Olhar a foto foi o empurrãozinho que faltava para ela ir morar em outro armário, onde certamente vai ser muito mais bem aproveitada do que quando morava no meu.
E não foi só com essa camisa que isso aconteceu. Ao longo do mês, eu pude perceber que diversas roupas estavam no meu armário por uma dúvida que nada mais era do que falta de coragem de assumir – para mim e para o mundo – que algumas coisas simplesmente não rolavam mais.
As peças podem ser lindas e estar em ótimas condições – mas se eu não me sinto bem ou representada vestindo elas, é hora de deixar ir.
Além de tirar as fotos antes de sair de casa, outra coisa que me ajudou muito durante o desafio foi ter criado o hábito de escolher o look na noite anterior. Essa era uma daquelas coisas que eu super subestimava e até achava meio boba – mas que me impressionou depois que eu comecei a colocar em prática.
Aqui, a grande questão envolvida é a energia mental que eu colocava – e que todos nós colocamos – no processo de escolha. Não é papo: escolher, de fato, cansa.
E mesmo que eu já tenha passado por vários destralhes e que não restem tantas opções diferentes no meu armário, é incrível o quanto o simples fato de ter de escolher um look antes de sair de casa demanda a minha energia, por mais insignificante que isso pareça.
Transferir este ritual para outro horário – no caso, a noite anterior – não só permitiu que eu escolhesse com mais cuidado como também tornou o meu dia mais leve. Isso sem mencionar o tempo que eu deixei de perder ficando catatônica diante do armário todas as manhãs.
Tendo pensando no meu look na véspera, era só acordar, tomar banho e vestir as roupas – rápido assim, sem nem precisar pensar. Se eu soubesse que uma coisa tão simples faria tanta diferença na minha rotina, eu certamente teria começado antes.
E foi me dando esse tempo para fazer as escolhas com mais consciência que eu cheguei a outro grande aprendizado deste junho sem looks repetidos, que foi o quanto eu não preciso de tantas opções. Mesmo. A quantidade realmente não faz mais diferença pra mim.
Eu já imaginava, e o desafio só veio confirmar as minhas suspeitas: eu sou muito previsível na hora de me vestir. Mesmo tendo um estoque considerável de alternativas – e podendo escolher com calma entre elas na noite anterior -, eu dificilmente saía do roteiro calça-bota-casaco.
Pode até ser que o fator climático tenha me atrapalhado um pouco, afinal, o inverno gaúcho não nos permite fugir muito do óbvio – a não ser que nós estejamos dispostos a passar um pouco de frio, é claro -, mas o fato é que mesmo em outras épocas do ano, eu tenho os meus favoritos.
Aqueles looks que a gente gosta de vestir e que são sempre a nossa primeira opção, sabem? Eu também tenho os meus. É com eles que eu me sinto bem, bonita e confortável. Por que, então, abarrotar o armário com algo diferente disso? Qual o sentido em gastar tempo, dinheiro e energia com coisas que eu preciso me forçar a usar, que nunca são escolhidas ao natural?
Outra curiosidade que eu acabei descobrindo, além dessa questão dos looks, foram as cores. Preto, cinza, vermelho e azul são sempre as minhas escolhidas. Eu até tenho peças que fogem dessa paleta, mas é incrível o quanto elas nunca são a primeira opção. Quantas coisas nós podemos descobrir apenas olhando para nós mesmos, hein?
Chegando ao final do desafio, entre a terceira e a quarta semanas, percebi que minhas blusas de inverno estavam bastante gastas e que aquilo me incomodava. Elas não estavam totalmente velhas, mas eu já não me sentia confortável em usá-las no trabalho. Então, decidi comprar outras.
E o interessante de ir às compras justamente depois de ter passado quase um mês fotografando tudo o que eu vestia, foi que eu estava muito mais consciente do que eu precisava buscar. Eu sabia exatamente qual era o modelo – e até a cor! – do que eu queria, e isso permitiu que eu comprasse de uma maneira muito mais inteligente.
Mesmo assim, preciso confessar que não consegui evitar uma certa culpinha. Mesmo sabendo que eu estava fazendo uma compra consciente, de algo que eu precisava e que eu realmente ia usar, me senti sim um pouco mal por estar trazendo mais coisas para a minha vida. E tudo bem, algumas sensações nós não podemos evitar – o importante é entender o que podemos aprender com elas.
E o que aprendi com esse episódio foi o quanto me ver em uma situação de compra me remete à época em que eu fazia isso sem consciência. E o quanto lembrar disso ainda é confuso e tende a me causar mal estar. É como se eu estivesse novamente tendo comportamentos que hoje eu reconheço como destrutivos – mesmo que o contexto atual seja totalmente diferente. Boa ou ruim, essa é uma reflexão que no mínimo serve como aprendizado.
ENFIM. A verdade é que foi só um mês, mas foram muitas as lições. Viver este desafio do junho sem looks repetidos, por mais boba e fútil que pareça a ideia, foi uma experiência que me ensinou muito. Eu esperava me convencer de que eu tinha mais do que o suficiente – e de fato me convenci -, mas acabei descobrindo que não eram só roupas que se acumulavam no meu armário. Era também o medo de deixar ir, a preguiça de não escolher com cuidado e tudo o que eu priorizava sem nem me dar conta.
Objetivos mais do que atingidos: superados!
Agora eu quero saber de vocês: quem mais encarou este desafio junto comigo? Alguém precisando de um empurrãozinho para fazer o mesmo?